quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crônica - Suziane Brugnára Fonseca

Miudezas

http://api.ning.com



As miudezas contam histórias nas quais quase ninguém repara. Quanto de nós não está nos frágeis fios que voejam por aí fazendo firulas de ventos em ventos? Fios esquecidos, desprendidos de nós. Fios de lã, de seda, de cabelos...

Também os botões são personagens principais nas singelas crônicas de insignificância cotidiana. Num mundo de coisas grandes, extravagantes, apoteóticas, botões enchem as sarjetas, entopem a pia de um antigo apartamento ou se confundem com moedas inválidas no fundo das gavetas.

Quem há de lembrar-se deles? Poucas pessoas. A não ser em momentos aflitivos em que uma fenda na blusa expõe a intimidade de bustos contidos por etiquetas sociais, ou no breve instante e que um coxa clara se mostra, acidentalmente, pelo desabotoar de uma saia esvoaçante. Aí os botões deixam de pertencer ao universo de pequenezas, das coisas sem valor, e se prestam a socorrer as mulheres desavisadas.

Ainda na linha da costura, os colchetes e as agulhas têm papel garantido, desde que não desapareçam em velhas frasqueiras no labirinto de armários. Os mesmos que talvez guardem as abotoaduras, os broches, as lantejoulas e um vidrinho com um tiquinho de purpurina de outros carnavais...

E o que seria dos brincos, com suas pedras e adereços que seduzem o atento olhar de mulheres vaidosas, se não fosse a parceria com as tarraxas? Tarraxas dão segurança, mas devem ficar bem escondidinhas!

Tampas, ah, as tampas de canetas! Vivem sumindo entre papéis, são varridas para o lixo ou perdidas nas frestas do sofá. Quando queremos guardar as canetas, lá se foram as tampas.

Os bibelôs travam luta silenciosa contra a poeira e o tempo. São miniaturas relegadas à própria sorte. Suvenires do esquecimento de nós mesmos.

Onde vão parar as centenas de pequenos objetos que dão mais vida à nossa Vida? As lentes de contato, lâminas de barbear, lenços de papel, lixas de unha, clipes, grampos, pinças, cílios postiços, pedrinhas de strass e medalhinhas, com seus minúsculos alfinetes... Como podemos suportar a perda das miúdas porcas e parafusos, que têm um quê de prende-tudo?

Nesse universo de ninharias a desordem impera não tanto por sua lógica de desestruturar os modelos de ordenação e equilíbrio, mas, sobretudo, pelas mãos, que se descuidam daquilo que é pequeno, aparentemente sem valor, e que no final das contas é o que fica em nossas reminiscências.

Suziane Brugnára Fonseca

Nenhum comentário:

Postar um comentário