Por muito tempo, as plantas carnívoras foram tidas como monstros sanguinários e devoradores de gente, talvez devido aos filmes de terror e livros de ficção que as retratavam assim. Na verdade, elas não passam de plantas. Bom, plantas belas, excêntricas, frágeis. Como ocorre com a maioria das criaturas temidas pelas pessoas, representamos um risco maior a elas do que o contrário. Não só sua fama é infundada, como sua denominação não é a mais adequada. As plantas "carnívoras" têm um cardápio pra lá de variado, que é composto principalmente de insetos, pequenos artrópodes, moluscos e larvas diversas. De "carne", o máximo que apanham são pequenos anfíbios, mamíferos e pássaros desprevenidos, mas esses não são o alvo de suas caçadas e podem até fazer mal a elas.
Por que elas capturam animais?
Não, elas não fazem isso por crueldade. Esqueça a crueldade. A captura e digestão de outros seres vivos são fruto de um longo e complicado processo evolutivo que teve como objetivo supri-las com o nitrogênio que não conseguem retirar dos solos pobres em nitratos e fosfatos onde são encontradas. Isso significa que, na prática, elas não adquirem energia diretamente dos animais que capturam; elas utilizam suas proteínas para obter o nitrogênio necessário para a realização da fotossíntese.
Neste post e em posts subsequentes, estarei escrevendo sobre gêneros dessas plantas, tanto para desconstruir a fama de assassinas criada ao redor delas, quanto para dividir informações sobre essas criaturas tão inusitadas e pouco conhecidas ainda hoje.
Dionaea
Bom, para começar a falar de plantas carnívoras, nada melhor do que escolher a Dionaea (ou Dioneia), a mais conhecida de todas elas e que provavelmente serviu de "modelo" para os monstros sanguinários da ficção.

A Dionaea é uma planta de gênero monotípico (de apenas uma espécie) proveniente exclusivamente dos Estados Unidos, mais especificamente da planície costeira das Carolinas do Norte e do Sul, local quente e bastante úmido. Ela é relativamente pequena, com diâmetro variando entre 8 e 16 cm, e suas folhas, que se dividem em duas partes, se dispõem em roseta. Cada uma dessas partes possui por volta de três pelos sensitivos quase imperceptíveis em seu interior, os quais, quando tocados, fazem com que elas se fechem como uma espécie de gaiola, que prende a vítima. Esse mecanismo de captura a classifica como uma planta carnívora ativa, visto que ela aprisiona suas presas com movimentos perceptíveis.
Ela é popularmente conhecida como "papa-mosca", pois moscas são seu prato principal. O seu cardápio, porém, não se resume a insetos, tanto que ela chega a capturar criaturas aquáticas e continua a se desenvolver como planta submersa em períodos de chuva intensa. Uma curiosidade a ser destacada é a sua seletividade quanto ao tamanho da presa apreendida; se ela for muito pequena, sua digestão gastará mais energia do que a que será gerada, então isso não teria uma boa relação "custo-benefício". A solução para isso é o fechamento das folhas em etapas: antes de serem completamente seladas, elas ficam parcialmente fechadas, com os "dentes" da superfície entrelaçados em uma trama semi-aberta pela qual os animais menores podem escapar.
Dioneia capturando lesma
Flor da Dioneia
Baseado em informações das revistas "Natureza" (Ano 8, Nº 3, Ed. 87) e "Guia de Plantas em Casa - Plantas Carnívoras" (Ano 1, Nº 1).
Caso queira saber mais sobre dicas de cultivo e cuidados com Dioneias, deixe seu comentário e eu farei um post sobre o assunto.



















