segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Plantas carnívoras: Dionaea


Por muito tempo, as plantas carnívoras foram tidas como monstros sanguinários e devoradores de gente, talvez devido aos filmes de terror e livros de ficção que as retratavam assim. Na verdade, elas não passam de plantas. Bom, plantas belas, excêntricas, frágeis. Como ocorre com a maioria das criaturas temidas pelas pessoas, representamos um risco maior a elas do que o contrário. Não só sua fama é infundada, como sua denominação não é a mais adequada. As plantas "carnívoras" têm um cardápio pra lá de variado, que é composto principalmente de insetos, pequenos artrópodes, moluscos e larvas diversas. De "carne", o máximo que apanham são pequenos anfíbios, mamíferos e pássaros desprevenidos, mas esses não são o alvo de suas caçadas e podem até fazer mal a elas.

Por que elas capturam animais?

Não, elas não fazem isso por crueldade. Esqueça a crueldade. A captura e digestão de outros seres vivos são fruto de um longo e complicado processo evolutivo que teve como objetivo supri-las com o nitrogênio que não conseguem retirar dos solos pobres em nitratos e fosfatos onde são encontradas. Isso significa que, na prática, elas não adquirem energia diretamente dos animais que capturam; elas utilizam suas proteínas para obter o nitrogênio necessário para a realização da fotossíntese.

Neste post e em posts subsequentes, estarei escrevendo sobre gêneros dessas plantas, tanto para desconstruir a fama de assassinas criada ao redor delas, quanto para dividir informações sobre essas criaturas tão inusitadas e pouco conhecidas ainda hoje.

Dionaea

Bom, para começar a falar de plantas carnívoras, nada melhor do que escolher a Dionaea (ou Dioneia), a mais conhecida de todas elas e que provavelmente serviu de "modelo" para os  monstros sanguinários da ficção.


A Dionaea é uma planta de gênero monotípico (de apenas uma espécie) proveniente exclusivamente dos Estados Unidos, mais especificamente da planície costeira das Carolinas do Norte e do Sul, local quente e bastante úmido. Ela é relativamente pequena, com  diâmetro variando entre 8 e 16 cm, e suas folhas, que se dividem em duas partes, se dispõem em roseta. Cada uma dessas partes possui por volta de três pelos sensitivos quase imperceptíveis em seu interior, os quais, quando tocados, fazem com que elas se fechem como uma espécie de gaiola, que prende a vítima. Esse mecanismo de captura a classifica como uma planta carnívora ativa, visto que ela aprisiona suas presas com movimentos perceptíveis.

Ela é popularmente conhecida como "papa-mosca", pois moscas são seu prato principal. O seu cardápio, porém, não se resume a insetos, tanto que ela chega a capturar criaturas  aquáticas e continua a se desenvolver como planta submersa em períodos de chuva intensa. Uma curiosidade a ser destacada é a sua seletividade quanto ao tamanho da presa apreendida; se ela for muito pequena, sua digestão gastará mais energia do que a que será gerada, então isso não teria uma boa relação "custo-benefício". A solução para isso é o fechamento das folhas em etapas: antes de serem completamente seladas, elas ficam parcialmente fechadas, com os "dentes" da superfície entrelaçados em uma trama semi-aberta pela qual os animais menores podem escapar.

Dioneia capturando lesma

Flor da Dioneia

Baseado em informações das revistas "Natureza" (Ano 8, Nº 3, Ed. 87) e "Guia de Plantas em Casa - Plantas Carnívoras" (Ano 1, Nº 1).
Caso queira saber mais sobre dicas de cultivo e cuidados com Dioneias, deixe seu comentário e eu farei um post sobre o assunto.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Origamis científicos


O origami é uma arte milenar que consiste na dobradura de um pedaço de papel em diferentes direções. Sua origem é incerta, mas acredita-se que foi ou na China ou no Japão que ele surgiu. Primeiramente, seria uma técnica restrita apenas à corte e à elite, uma vez que a matéria-prima era um artigo raro e extremamente valioso. Ao longo dos anos, porém, essa habilidade foi sendo difundida e, hoje em dia, é algo muito comum.

Apaixonado por essa prática, o físico e engenheiro americano, Robert J. Lang mesclou seus conhecimentos científicos ao seu hobby e criou uma coleção extraordinária de imagens. Suas figuras são feitas com base em cálculos matemáticos e ele utiliza programas de computador para estabelecer os melhores e mais exatos pontos onde devem ser feitas as dobraduras no papel. São cerca de 500 imagens distintas e muito criativas. Suas obras podem ser feitas sob encomenda, e o preço varia de US$ 200 e US$ 3.000. Muitas estão em exposições simultâneas nos Estados Unidos e no Canadá.
Bezerro

Alce

Cigarra
Inseto

Beija-flor

Carro

Formiga

Casal

Escorpião

Sapo

Raposa

Tarântula

Tartaruga

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O câncer do diabo


O diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii) é um mamífero marsupial endêmico da ilha da Tasmânia, Austrália. Nos últimos anos, porém, essa espécie corre o risco de desaparecer. E a razão de tal tragédia se deve a um tipo ímpar de doença: um câncer localizado na face, pescoço e cavidade bucal que evoluiu para um parasito. Como consequência, a enfermidade pode ser transmitida de um animal para outro. E isso é favorecido por um hábito muito comum entre eles: em lutas por território, alimento ou fêmeas para acasalamento, eles, frequentemente, se mordem nos locais afetados e podem ingerir pedaços do tumor e, assim, se contaminarem.

A proliferação celular pode ser identificada pelas ulcerações e nódulos nos lábios e na mucosa oral que, posteriormente, se desenvolvem em pequenas protuberâncias malignas no rosto, colo e ombros. A disseminação para outros órgãos se dá por metástase (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra). O organismo infectado morre por septicemia derivada de infecção secundária, inanição ou falência múltipla dos órgãos em 3 a 8 meses após o aparecimento das lesões. A taxa de mortalidade é de 100%.

Os primeiros casos foram registrados em 1990 e, desde então a situação vem se tornando cada vez mais crítica: a moléstia já dizimou 84% da população dos diabos. Para evitar uma catástrofe, pesquisadores estão realizando diversos esforços, há mais de uma década, para compreender esse novo tipo de doença e conseguir uma cura. Especula-se como uma vacina atuaria no retardamento e possível anulação do câncer. Entretanto, essa medida talvez não seja o suficiente, uma vez que seria necessária mais de uma aplicação, o que pode ser inviável e sem garantias.

Portanto, como um ato mais imediato, o biólogo Phil Wise e sua equipe iniciaram um novo projeto: a transferência de mamíferos saudáveis para a Ilha de Maria, situada a cinco quilômetros da costa da Tasmânia. A partir disso, um refúgio poderia ser estabelecido e a extinção, caso todos os animais da Tasmânia sejam acometidos pela doença, não ocorreria. Em novembro do ano passado, um grupo viajou à Ilha levando 15 indivíduos para analisar sua adaptação no local. No segundo trimestre desse ano, há a pretensão de se levar mais animais para que uma colônia seja estabelecida. Fora isso, o governo está acompanhando uma “população segura” com aproximadamente 500 diabos distribuídos entre zoológicos e santuários ecológicos.

A importância desses estudos consiste em não somente salvar essa espécie, mas também se prevenir em relação a casos futuros. 
A ONG World Wide Fund Nature (WWF) recebe doações para auxílio aos diabos-da-tasmânia. Para mais informações sobre isso, visite o site da organização: www.wwf.org.br.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A FERA AMEAÇADA


Introdução
Os tubarões são os maiores peixes conhecidos. Já existiam há mais de 350 milhões de anos, muito antes do aparecimento dos primeiros dinossauros e homens, o que pode ser comprovado pelos extratos paleozoicos do mais primitivo desses animais: o Cladoselache.
As dimensões, mesmo extremamente reduzidas se comparadas com as de outros peixes couraçados daquela época (que chegavam a medir cerca de 6 metros de comprimento), não afetaram a sobrevivência dos tubarões ancestrais, pois outras características, tais como grande agilidade e velocidade, permitiram que eles pudessem competir por território e alimento, transmitindo, ao longo das gerações, suas características.

O porquê dos ataques
Esses animais estão presentes em nosso imaginário, dividindo reações de fascínio e medo. Há muitos anos, diversos filmes como "Tubarão”, de Steven Spielberg, espelharam esse conflito de sentimentos e serviram para criar em torno desses seres uma aura de terror. E isso vem sendo reforçado pelos casos de acidentes com banhistas e praticantes de esportes aquáticos. Entretanto, apesar do que a maioria pensa, os tubarões NÃO são devoradores de humanos e não nos têm como participantes de seu cardápio.
Das mais de 400 espécies, apenas três efetivamente provocam acidentes: o cabeça-chata, o tubarão-tigre e o tubarão-branco, sendo que o número total de casos não ultrapassa 12 por ano, em todo o mundo. Estatisticamente, acidentes com automóveis, ou simples atividades, como atravessar a rua ou jogar golfe, são mais perigosas e resultam em um número incomparavelmente maior de vítimas. Então, por que esses animais investem contra humanos? Isso tem uma série de motivos.
Primeiramente, vistos por baixo, surfistas são apenas uma prancha com duas pernas. Eventualmente, por um erro de identificação, já que a forma é semelhante às de focas e tartarugas, o tubarão acaba por morder o alvo. Percebendo que aquilo não se trata do que ele julgava ser, ele solta a vítima. Quase todos os casos já relatados possuem esse perfil: uma pessoa que apresenta uma única mordida. Segundo: por inadvertência, banhistas podem adentrar áreas de desova ou procriação e assim sofrem o ataque desses animais, sobretudo de fêmeas grávidas.
A causa mais importante e por muitos relegada ao esquecimento, entretanto, é a ação antrópica. A destruição inconsequente do habitat natural dos tubarões força a sua migração, o que pode promover maior contato entre eles e nós. Um caso que serve para exemplificar isso se deu no início dos anos 1990, em Recife, quando uma área de mangue – região rica em biodiversidade e fornecedora de alimento – foi aterrada para que um porto fosse construído. Era por esse local que as fêmeas subiam o rio para dar à luz seus filhotes. Com a impossibilidade de realizarem essa ação, se deslocaram para o Grande Recife.

Quem realmente está ameaçado?
Quem nunca sentiu temor de dar de cara com um tubarão durante um mergulho no mar? Como ter certeza que bem abaixo dos seus pés não há dois olhos espreitando? Bom, acho que esse sentimento de medo é comum, mas são eles, os tubarões, que possuem motivos para se sentirem inseguros. Assim como vários outros peixes, eles se encontram em crescente pressão por causa da pesca mundial. Com a queda drástica das populações de peixes destinados ao mercado, muitas das frotas pesqueiras estão se voltando para esses animais como uma fonte alternativa de renda e alimento. Isso pode acarretar efeitos irreversíveis não somente para os tubarões, como também para todo o ecossistema marinho, uma vez que esse grupo ocupa um importantíssimo lugar na cadeia alimentar.
A pesca para o corte de barbatanas, conhecida como finning, é uma prática cruel, pois o animal capturado, após ter seus membros extirpados, é lançado ao mar, sangrando e incapacitado de nadar. Sua morte é lenta e agonizante. Essa pode ser considerada uma das maiores ameaças para os tubarões. É absurdo que, em pleno século XXI, em alguns lugares ainda se cultive o hábito de consumir uma sopa preparada com as nadadeiras, confiando em que ela proporcionará dotes fantásticos. Também é absurdo considerar tal prato um símbolo de prestígio e ascensão social. Como se isso não bastasse, há um intenso comércio de dentes, óleo de fígado e pedaços de pele e cartilagem para as indústrias farmacêutica e da moda. Anualmente, cerca de 100 milhões de tubarões são mortos para esses fins. Ademais, não devemos nos esquecer de que a acidificação dos oceanos resulta na morte, em larga escala, dos recifes e corais. O excesso de CO2 não permite a sobrevivência das algas e plantas aquáticas, sem as quais as outras espécies marinhas fenecem, inclusive os tubarões.
O tempo está correndo, e uma catástrofe é iminente. Se nos dizemos assim tão racionais, devemos começar a agir como tais. É necessário que deixemos de ser egoístas e que não fechemos os olhos perante um problema que só vem piorando – e lembrar que isso não é válido somente para os tubarões, mas, sim, para todas as outras criaturas.


Para mais informações, consulte o livro "Enciclopédia da Vida Selvagem Larousse - Animais do Mar I", Editora Altaya e acesse os sites http://discoverybrasil.uol.com.br/tubaroes/detalhe/branco/index.shtml e http://seashepherd.org.br/tubaroes/.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crônica - Suziane Brugnára Fonseca

Miudezas

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As miudezas contam histórias nas quais quase ninguém repara. Quanto de nós não está nos frágeis fios que voejam por aí fazendo firulas de ventos em ventos? Fios esquecidos, desprendidos de nós. Fios de lã, de seda, de cabelos...

Também os botões são personagens principais nas singelas crônicas de insignificância cotidiana. Num mundo de coisas grandes, extravagantes, apoteóticas, botões enchem as sarjetas, entopem a pia de um antigo apartamento ou se confundem com moedas inválidas no fundo das gavetas.

Quem há de lembrar-se deles? Poucas pessoas. A não ser em momentos aflitivos em que uma fenda na blusa expõe a intimidade de bustos contidos por etiquetas sociais, ou no breve instante e que um coxa clara se mostra, acidentalmente, pelo desabotoar de uma saia esvoaçante. Aí os botões deixam de pertencer ao universo de pequenezas, das coisas sem valor, e se prestam a socorrer as mulheres desavisadas.

Ainda na linha da costura, os colchetes e as agulhas têm papel garantido, desde que não desapareçam em velhas frasqueiras no labirinto de armários. Os mesmos que talvez guardem as abotoaduras, os broches, as lantejoulas e um vidrinho com um tiquinho de purpurina de outros carnavais...

E o que seria dos brincos, com suas pedras e adereços que seduzem o atento olhar de mulheres vaidosas, se não fosse a parceria com as tarraxas? Tarraxas dão segurança, mas devem ficar bem escondidinhas!

Tampas, ah, as tampas de canetas! Vivem sumindo entre papéis, são varridas para o lixo ou perdidas nas frestas do sofá. Quando queremos guardar as canetas, lá se foram as tampas.

Os bibelôs travam luta silenciosa contra a poeira e o tempo. São miniaturas relegadas à própria sorte. Suvenires do esquecimento de nós mesmos.

Onde vão parar as centenas de pequenos objetos que dão mais vida à nossa Vida? As lentes de contato, lâminas de barbear, lenços de papel, lixas de unha, clipes, grampos, pinças, cílios postiços, pedrinhas de strass e medalhinhas, com seus minúsculos alfinetes... Como podemos suportar a perda das miúdas porcas e parafusos, que têm um quê de prende-tudo?

Nesse universo de ninharias a desordem impera não tanto por sua lógica de desestruturar os modelos de ordenação e equilíbrio, mas, sobretudo, pelas mãos, que se descuidam daquilo que é pequeno, aparentemente sem valor, e que no final das contas é o que fica em nossas reminiscências.

Suziane Brugnára Fonseca